quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DECISÕES ADULTAS

A sogra de uma amiga, quando soube que ela queria se separar de seu filho, chamou-a para uma conversa amiga, de mulher para mulher, de mãe para filha (ela podia tratá-la assim, não podia?). Em cinco minutos de conversa, estava bastante claro o objetivo do convite: tentar convencê-la a todo custo que ela não deveria (ou não poderia) abandonar seu filho.

Não há dúvida de que separação não é uma coisa boa, sendo a causa de um enorme número de depressões, antes até da viuvez ou da perda de alguém querido. Por outro lado, sabe-se também da enorme quantidade de relacionamentos que acabam em separação. Isto não diminui a dor, mas há muito desfez o tabu e descriminação que havia em relação a pessoas separadas. E essa realidade vem sendo tão evidentemente consolidada que, por exemplo, diante de tantas novas configurações familiares, várias escolas vêm dando preferência a uma festa para a família, em alguma data que não seja nem o dia dos pais nem das mães, para evitar o constrangimento do aluno diante de uma provável ausência do pai ou da mãe.   

Mas voltando à conversa entre a sogra (a quase-mãe) e minha amiga... parece que a primeira não estava disposta a aceitar que a nora deixasse seu filho em hipótese alguma e, com postura e tom de voz autoritários apresentou uma lista de motivos retrógados e arbitrários para que a separação não acontecesse. Disse-lhe que uma ‘mulher de bem’ não deixa o marido, que não destrói uma família. Disse-lhe para pensar melhor, pois logo, logo iria se arrepender e então seria tarde e que nunca mais ela seria feliz de novo. Que mais do que a uma relação, era à vida dos dois que ela estava pondo um fim e só Deus tem o direito de tirar uma vida... enfim, utilizou-se dos argumentos mais apelativos que encontrou.

Pouparei os leitores da continuação do melodrama. Direi apenas que, depois de 40 minutos, a nora saiu do apartamento da sogra, sem ar e abalada. Sem saber o que fazer ou para onde ir, telefonou-me para encontrá-la. Como a hora não era de censura, pouco falei em nosso encontro, limitando-me mais a escutá-la.
   
Agora, na crônica, envio-lhe o recado. O que ela esperava do discurso da sogra? Que homem é este que precisa que a mãe fale autoritariamente com sua própria mulher? Que mulher é esta que vai à casa da sogra para ouvir suas censuras e críticas? Talvez esteja aí a causa (ou uma delas) da separação: apesar da idade, o casal se portava como filhos, não como adultos.
   
E, quanto à sogra, que desastre!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SUSTOS?

Desculpem-me, se o texto hoje é pesado, mas me foi inevitável escrevê-lo.
Às vezes me pergunto por que nos assustamos tanto com  ‘acidentes’ como o do bonde de Santa Teresa, ou o da explosão do restaurante no Centro. Por que nos assombramos com bueiros indo aos ares pela cidade, ou com as enchentes que tanto devastam?
Sim, mortes e famílias arremessadas ao breu da tristeza e da desolação acabam conosco. Isso não é estranho.
A questão que levanto hoje aqui  é por que nos assustamos? Por que, se sabemos que, como em uma crônica de morte anunciada, a qualquer momento, em qualquer setor, uma nova desgraça pode acontecer como fruto da falta de responsabilidade, de consciência, de ética.
Será que, enquanto discutimos sobre anúncios de lingeries, reality shows, jogos de futebol e outras coisas assim ‘importantes’, nos esquecemos de enxergar todo o absurdo que nos cerca a cada instante?
Tudo anda e avança gananciosa e cegamente para frente, sobre campos minados pela inconsistência / incompetência / inconsciência de um poder público que jura, sempre, uma vez acontecida a tragédia, tomar, a partir de então, as atitudes que já deveriam ter sido tomadas desde sempre. Será que meia dúzia dessas palavras, declaradas em tom de pesar, realmente nos convencem?
Isso se repete, toda vez... como uma brincadeira de criança... será que não percebemos isso ou preferimos nos acomodar na esperança de que, de fato, as coisas passem a acontecer como deveriam?
É claro, o ideal seria que não fossem necessárias fiscalizações, cobranças e punições. Que em todos os âmbitos da sociedade, cada um de nós assumisse, com competência, suas responsabilidades. Mas vamos ser realistas...- por motivos inúmeros, que demandariam muito mais tempo e espaço para serem discutidos -  precisamos de um poder público que exija e cobre isso...
E quem sabe, um dia, a justiça, internalizada em todos nós, será capaz de evitar tanta leviandade.

domingo, 25 de setembro de 2011

ATENÇÃO AOS SINAIS!

Tudo é sempre claro e definido? Claro que não, a vida mesmo é o oposto disso.
Mas às vezes me pergunto se estamos, mesmo, quase sempre, tão cegos aos sinais que anunciam claramente mudanças, ou se, inconscientemente, fingimos que não os enxergamos por medo de ter que agir. Talvez seja mesmo mais fácil nos lamentarmos, depois, e fingir-nos surpresos, do que tomar alguma atitude, antes, para tentar impedir a mudança.
Bem sabemos que nem todas as pessoas expõem clara ou verbalmente suas dificuldades, o que lhes desagrada, o que, muitas vezes, torna sua permanência em uma relação algo inviável. Há pessoas, digamos, mais explícitas. Falam, reclamam, gritam, brigam. Há outras mais introspectivas, reservadas. Sentem, guardam, sofrem e dão apenas sinais, sugerem, insinuam, tocam no assunto de forma geral, como se impessoalmente. É a única maneira que têm de se expressar sobre o problema. Mas curioso é o fato de que, embora possa parecer mais fácil   conviver com  este último tipo – e no dia a dia até pode mesmo ser –,  no decorrer de uma relação, com certeza é mais trabalhoso e difícil, porque temos de estar mais atentos aos sinais que esta pessoa dá, se quisermos de fato mantê-las (a relação e a pessoa).
É comum escutarmos histórias – quando nós mesmos não a vivemos - de relacionamentos que terminaram ‘assim... de repente... de uma hora para outra!’ – dizem os assustados. Mas será mesmo que não foram dados sinais, muitas vezes até bem claros do que estava errado na relação? Será que o ‘surpreendido’ não percebeu o que teria de fazer, ou até mesmo de parar de fazer, para que as coisas não chegassem a um final?
Penso que muitas vezes confundimos sutileza com passividade e/ou insensibilidade, incapacidade de tomar atitudes, de se posicionar. E com isso não percebemos que, como gotas d’água, insatisfações ignoradas– mesmo que tenham sido apenas sinalizadas-  acabam por fazer o copo transbordar e inundar tudo que já foi construído. Talvez estejamos acostumados demais a receber tudo como se fossem imagens, prontas – e como se imagens também não trouxessem em seu corpo o oculto, ou o semi-escondido, ou o insinuado.
Mas, como em um texto, que se multiplica em sentido e efeito a partir de suas entrelinhas,  a vida também pode emergir, com mais intensidade e verdade, do que é apenas sugerido.
Seria melhor, então, que estivéssemos mais corajosamente atentos aos sinais para que o explícito não acabe por nos deixar pra trás.

domingo, 18 de setembro de 2011

CUIDADO COM AS FANTASIAS

Fantasias, temos todos!

Podem ser saudáveis e nos motivar a seguir em frente na vida.

Podem, ao contrário, paralisar aqueles que, ao perceberem que os acontecimentos de sua vida não estão seguindo o rumo idealizado por eles, acabam por desistir e não fazer mais nada.

E as fantasias podem ainda fazer com que alguns de nós, insatisfeitos por não alcançarem o estágio fantasiado, mudem constantemente de rumo, criando rupturas e forçando desvios, sem conseguirem concretizar nada por inteiro. E é este o ponto que gostaria de abordar hoje.

Não falo aqui de planos - estes são fundamentais para o desenrolar de nossas conquistas - mas de idealizações, que acabam por atrapalhar nossa realidade.

Diversos aspectos de nossas vidas podem ser visivelmente afetados por nossas fantasias, passando por nossas escolhas profissionais, nossas amizades e nossos relacionamentos amorosos.

Reencontrando esta semana uma amiga com quem não conversava há alguns anos, pensei neste texto. Ela me contava sobre sua longa e mal sucedida lista de namorados depois da ‘decepção’ que havia sofrido com o fim do primeiro casamento, no qual - ela idealizara...- viveria feliz para sempre.
   
De fato, normalmente, o primeiro relacionamento amoroso duradouro é normalmente mais idealizado do que os outros, pois temos mais expectativas e menos experiência. Fantasiamos que não teremos os problemas que vimos em outros casais, que seremos eternamente apaixonados e que viveremos em um verdadeiro paraíso, como nos antigos filmes de Hollywood.

Acontece que a realidade vai nos mostrando que as coisas não são assim. E então, cada um de nós vai reagindo de maneira própria e individual.

Algumas pessoas, após a primeira separação, se fecham, e veem o tempo ir embora sem,  nem ao menos, tentarem refazer a vida amorosa. Magoados com o destino que as escolheu como ‘única vítima’ da desilusão amorosa, abdicam de sua afetividade e sexualidade e vão cuidar de negócios, da casa, dos pais, dos filhos e netos, ou seja, se dão razões nobres para não viverem, pois quem ousaria falar mal do trabalho ou da família?

Outras se fecham também, mas para qualquer relação que possa ser aprofundada. E passeiam por pares, superficialmente, como se por puro entretenimento. O vazio me parece inevitável.

Por fim, há aquelas pessoas que começam a viver a vida de relação em relação, em busca do novo ‘par perfeito e definitivo’. Mas me pergunto, como esperar encontrar o definitivo se vivendo no transitório? Essas pessoas costumam ter sempre em mente que deve existir alguém mais perfeito ainda para elas, e facilmente terminam, consciente ou inconscientemente, os relacionamentos para se envolverem em outro, em outro e em outro... 

Neste ponto me surge, então, uma série de questionamentos.

Será que, se deixarmos de lado as idealizações e olharmos para nós mesmos, para os outros e para a vida com olhos mais realistas, não poderemos ter mais satisfação?

Será que, se esquecermos as expectativas e as cobranças de uma ‘relação-modelo’ não conseguiremos mais facilmente a estabilidade afetiva e sexual que toda relação deveria nos proporcionar?

Será que, se, mesmo que apaixonados, nos esforçarmos para sermos menos sonhadores e fantasiosos, não teremos mais possibilidades de construir uma relação respeitosa, que nos fortaleça, que nos faça crescer individualmente e como casal?

E será que vale a pena?

Penso que o esforço pode, de fato, valer sim.

E vale também lembrar que NINGUÉM está definitivamente preso a nenhuma das situações mencionadas mais acima. Sempre é tempo de enxergarmos novos rumos, de tentarmos novos caminhos, de nos transformarmos. E disso, pode acreditar, eu tenho certeza!

domingo, 11 de setembro de 2011

ALGO SOBRE A FELICIDADE

Li ontem uma entrevista sobre relacionamentos amorosos, da qual retiro a resposta para a pergunta sobre a difícil felicidade na vida a dois.

Disse o professor entrevistado que a questão não era o grande número de casais infelizes (ou não felizes) na vida a dois, mas o grande número de pessoas que não são felizes, com ou sem alguém. Segundo ele, viver ‘feliz’ é algo que poucos conseguem, independente de terem um par ou não.
   
Agradou-me a resposta, considerando a ‘felicidade’ como um conjunto de situações internas e externas que levam a mais ou menos momentos felizes e não como um estado permanente e eterno, pois a coloca em seu devido lugar, ou seja, dentro de cada um de nós e dependente exclusivamente de cada um.

A vida a dois já tem sido responsabilizada demais. Por que não dizer que fulano não é feliz, no lugar de fulano não é feliz na vida amorosa? A felicidade é um bilhete lotérico? Está entregue nas mãos dos deuses? Ou cabe exclusivamente a nossos parceiros nos fazer felizes ou infelizes? Nós não temos nada a ver com a nossa felicidade?
   
Coitada da Maria, mas também vivendo com João, que não consegue se estabilizar em emprego nenhum. E o que dizer de José, com aquela companheira que não o valoriza e está sempre querendo gastar mais do que ele consegue ganhar. Isto para não falar da Carla, pobrezinha, cujo marido a deixou por uma jovem de vinte anos. Pior é caso de Antônio, traído pela mulher e por seu suposto melhor amigo. A lista não tem fim.
   
Todas as personagens acima são infelizes porque são infelizes nos seus relacionamentos? Não é verdade! Ou se em algum caso o for, o problema não está no relacionamento, mas na maneira como cada um encara a sua vida e se coloca diante deles.

Somos os responsáveis por nossas escolhas, e deveríamos sempre ter isso muito claro dentro de nós, antes de culpar a todos ao nosso redor por nossos problemas. Não podemos depositar no outro algo que só nós podemos desenvolver e cultivar.

A ‘vida a dois’ não é uma espécie de entidade única, abstrata que surge do nada, trazendo a promessa de uma felicidade eterna, mas uma construção que tem de ser habilmente trabalhada pelas duas partes. Duas partes inteiras, e não duas metades, incompletas, e a espera de que um outro a torne inteira. E esse relacionamento só vai resultar em felicidade se cada um estiver consciente da importância deste processo. 

Afinal, neste caso, ‘dois’ tem de ser a soma de ‘um’ MAIS ‘um’. Se não, é só um conjunto de letras, sem significado, totalmente vazio.

E quem conseguiria ser feliz no vazio? Penso que ninguém!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SURDEZ

Estava na plataforma do metrô, quando o funcionário anunciou pelo alto-falante que o próximo trem não faria serviço de passageiros. Logo que o trem chegou, o funcionário permaneceu avisando que o trem, agora parado na estação, não faria serviço de passageiros. No entanto, havia umas 50 pessoas em frente às portas dos vagões, esperando que elas abrissem. E, mal o trem partiu, alguns fizeram uma expressão de frustração, como se estivessem surpresos com o fato.

Ora, o aviso pelo alto-falante fora dado inúmeras vezes de forma audível, por que aquelas pessoas não ‘escutaram’ embora tenham, fisicamente, ouvido a mensagem, e agiram como se nada tivesse sido dito. Se fosse uma só pessoa a não ouvir, poderíamos pensar que estava distraída, ou que poderia ter alguma deficiência auditiva. Mas 50?

Como não se trata de um caso isolado, podemos pensar em uma surdez coletiva. Sim, ela existe. E não é só distração, talvez esteja  mais relacionada à falta de hábito de realmente escutar e pensar no outro. Ou será que a expectativa de se ouvir algo faz com que se ouça o que não foi dito.Eles estavam ali, na plataforma, à espera do trem que os levariam para casa ou para o serviço, logo como o trem não faria isto?

Não sei com certeza o que causa esta conduta, só me atrevo a constatá-la e fazer especulações. De qualquer forma, acho que ela  merece atenção, já que, certamente, não acontece por acaso. O fato é que existe uma surdez, individual e coletiva. A surdez individual poderia ser fruto de egoísmo ou, pelo menos, de egocentrismo. O sujeito está tão voltado para si mesmo que não escuta o que o outro, a seu lado, fala. É uma leitura possível, mas não me satisfaz. Acho que há mais coisa nesta surdez, pois ela é numerosa. E, pior, ela não será tratada por otorrinolaringologista algum. As pessoas do metrô
permanecerão surdas.
   
Se um aluno na escola não entende por que fez determinado erro no exercício ou na prova, provavelmente o repetirá.

Assim é na vida: se as pessoas não sabem por que não ouvem, continuarão surdas. Os verdadeiros surdos têm dificuldade de interpretação: como não sabem o que está sendo perguntado, respondem qualquer coisa. O meu receio é este. Pessoas como as do metrô, se não percebem o que acontece a sua volta, também podem acabar por viver qualquer coisa. 

domingo, 21 de agosto de 2011

E PONTO FINAL

Por mais que sejamos acomodados, vamos nos deparando, ao longo da vida, todos, inevitavelmente, com inúmeras mudanças. E isso não é novidade alguma. São mudanças físicas, mudanças interiores, mudanças que escolhemos e as que nos são impostas pelos outros ou pela própria vida. Mudanças que acontecem sem que nos demos conta, mudanças que simplesmente nos devastam, e outras que só vamos entender e até valorizar depois de passado algum – quem sabe muito – tempo. Mudanças que sabemos necessárias mas que nos são difíceis – para alguns, até mesmo impossíveis – de realizar, mudanças repentinas, mudanças ousadas.
Mas o que anda rondando meus pensamentos, especialmente, e que divido aqui com vocês, é a dificuldade que às vezes temos em enxergar que mudamos sempre de uma situação para outra, e não para o nada. Mesmo que sintamos um certo vazio em determinados casos, este vazio é uma nova situação e dever ser encarada de frente, para que possamos, de fato, seguir ‘em frente’ e construir o novo.
Percebo que há casos em que demoramos a romper realmente com o que antecede a mudança, com o ‘velho’. E acabamos acumulando rastros e restos de situações que já azedaram, que já são velhas, passadas. E o pior é que, por este motivo, muitas vezes deixamos de enxergar as novas possibilidades, de tirar o máximo do novo que se apresenta e até mesmo corremos o risco de jogar pela janela o que já começou a se delinear. Esses rastros e restos, como uma simples gota de limão em um litro de leite fresquinho, podem ter certeza, são capazes de azedar todo o caminho adiante.
Como se seguíssemos na linha do tempo do caminho da vida – pois não há outra opção – mas andando de costas, olhando para trás, para o que já se foi e não é mais. Ao invés de olharmos pra frente e buscarmos os novos alicerces pra uma nova construção. Trazer aprendizados do que já vivemos para o nosso presente, sim. Andar de costas, NÃO! Andar de marcha à ré na vida atrasa nosso próprio percurso, atrapalha os outros e ainda dificulta o desvio do abismo.
Tudo na vida demanda esforço – impossível, para mim, pensar o contrário – e colocar um ponto realmente final no que, se teve de mudar é porque já passou, é um esforço cuja recompensa vale sempre a pena.
A vida só anda, se pra frente!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

COISAS DE ESPELHO

Na clássica história infantil da Branca de Neve, a madrasta pergunta sempre ao espelho se há mulher mais bonita do que ela e ele é obrigado a responder que não. Já na vida real e adulta, não temos um espelho a nosso favor e o objeto que é símbolo de vaidade passa a ser ameaça. O espelho já não diz o que queremos ouvir, mas, sim, o que a imagem mostra. E esta imagem muitas vezes nos é desagradável. Logo passamos a evitar o espelho. Em outras palavras, a nos evitar.

Muitas pessoas só se deixam fotografar de lado, ou só de frente, porque sabem que são mais fotogênicas, se vistos deste ângulo. Pensemos neste fato como uma metáfora. Será que só mostramos o nosso lado que sabemos mais simpático? Ou será que fazemos em público as coisas que achamos que fazemos bem para que a nossa imagem – na verdade parcial, é claro – seja apreciada pelos outros?

Assim como, às vezes, depois de uma semana de guloseimas, evitamos a balança para não vermos confirmado em números o que, obviamente, já sabemos, nós evitamos também os vários espelhos que surgem diariamente a nossa frente. Disfarçamos, cinicamente, como se não estivéssemos nos vendo. Sabe quando você não quer cumprimentar um conhecido e finge que não o viu, ou até troca de calçada, para não ter que ser forçado a falar com ele naquele momento? É a mesma coisa. Nós, de certa forma, somos este conhecido desagradável do qual tentamos nos esquivar na rua.    

Há ainda uma imagem pior, a do credor. Basta ouvir a palavra credor, para sentirmos uma sensação desagradável, mesmo que nunca tenhamos tido dívidas. É uma associação que habita o nosso subconsciente. Se devêssemos de fato, então... talvez fizéssemos de tudo para escapar do constrangimento de sermos cobrados e de admitirmos nosso erro.

E, afinal, o que é um espelho se não um cobrador que bate à nossa porta e nos olha de frente, sem direito à fuga? E, aí, como responder a si mesmo?

O espelho não aceita mentiras.

domingo, 14 de agosto de 2011

NOSSOS PAIS

Rio, 13 de agosto de 2011

A televisão anuncia: ‘amanhã é o Dia dos Pais’.
Não sou nada ligada nestas datas criadas...mas não sei não...‘Amanhã é o Dia dos Pais!’, outro anúncio grita novamente...

Ah é?! Então, tá!
Pois amanhã vou fazer um almoço.
E um almoço muito especial!

Um almoço para os pais
que já não estão e-x-a-t-a-m-e-n-t-e  aqui,
mas estarão s-e-m-p-r-e aqui.

Pais que marcaram nossa vida, pelo dna, ou pelo gesto.
Pais que, mesmo com suas fraquezas e erros, foram fortes o suficiente para tentar nos orientar sem nos impedir de viver.

Pais cujas lutas de uma vida toda escreveram histórias de persistência e paciência.

Pais que, se faltaram em beijos ou abraços, em carinhos ou afagos (se não, melhor ainda!), esbanjaram em exemplos de esforço e coragem.

Pais que tentaram, que se preocuparam, que integraram à sua inevitavelmente complexa, pois humana, existência, a responsabilidade de tentar fazer de nós o que achavam que era o melhor.

Pais que se tornaram parte de nossa alma; em pequenas ou grandes porções, em leves ou profundas camadas, como canto de beija-flor ou rugido de leão.

Pais que se fizeram pais por nós e em nós se eternizaram. E por isso surgem, vivos: num café, num livro, num jogo, numa música, num sorriso, numa lágrima, num instante, num sonho, num almoço...

Sim, amanhã farei um almoço muito especial para todos os pais, que estarão à mesa conosco, mas não mais sentados à nossa frente porque estão mesmo é dentro de nós, para sempre.

domingo, 7 de agosto de 2011

NÃO, A VIDA NÃO FICA PARA DAQUI A POUCO!

Quem um dia não ficou satisfeito por estar chovendo e, portanto, ter uma boa desculpa para não sair? Só que esta saída, na verdade, significava algum prazer, como ir a um passeio, à praia ou ao cinema. Ora, por que ficaríamos satisfeitos em não fazer algo que, a princípio, seria a realização de um desejo? É estranho, mas é verdade, às vezes acontece, e praticamente com todos nós.

A questão que interessa é: por que usamos tantas desculpas, como por exemplo a chuva, para não agir? E mais ainda: por que queremos não agir, se a vida se dá justamente nas ações, mesmo que pequenas e simples?   Por que queremos nos poupar da vida, atrás de uma vidraça, olhando a chuva que cai e falsamente lamentando não podermos ir à praia, onde nadaríamos, pegaríamos sol, conversaríamos com os amigos e apreciaríamos a paisagem?

Resposta número um, mas não única: temos a tendência à autossabotagem e esta ocorre em diversos níveis. Ficar em casa em dia de chuva é só um deles, e não é o mais grave, claro.

Resposta número dois: a lei da inércia. A vida em recintos fechados nas grandes cidades acostumou o corpo e a mente a espaços pequenos e, como já foi dito, fechados, limitados. A insegurança das ruas enxota cada vez mais o cidadão para as quatro paredes. Repare que, desacostumado de se mover, o corpo, assim como a mente, tem dificuldade de movimento, preferindo, normalmente, não fazer esforço.

Quantas vezes nos acomodamos no que até chamamos, para adoçar a situação, de preguiça e afirmamos que hoje não, mas da próxima vez iremos à praia, ou teremos mais tempo para o bate-papo com os amigos. Da próxima vez estaremos mais bem dispostos para uma caminhada ou nos prepararemos melhor para este ou aquele programa cultural... Mas hoje, evidentemente, não podemos.

Não! ‘A próxima vez’ não é mais esta vida. E talvez não seja outra. Movimentar-se e assistir um pôr-do-sol, ao vivo, no Arpoador, por exemplo, pode, muitas vezes, iluminar mais caminhos do que os tantos e tantos watts que clareiam os cômodos por detrás de suas janelas. E se chover? Que tal um fondue com os amigos, ou uma bela sessão de cinema? Sim, hoje!

A vida não espera!

DA ARTE DE SE AGRADAR

Seja qual for nossa atividade profissional, sempre nos deparamos com pessoas que pensam de forma diferente da nossa ou até mesmo oposta a ela. Isto faz parte da rotina do trabalho, e por que não dizer da vida. Não podemos esperar uma aceitação unânime, nem devemos nos melindrar, quando escutamos críticas ou censuras ao que fazemos, pois nós também somos permanentemente críticos dos outros.

Logo, não devemos achar que uma opinião contrária seja algo pessoal, dita para nos magoar ou nos aborrecer. Além do mais, não necessariamente o nosso ponto de vista é sempre o mais certo ou o mais adequado. É importante acreditarmos no que pensamos, mas isto não é garantia de que nosso modo de pensar seja o melhor ou o único possível.

É preciso que estejamos sempre abertos a novas e diferentes ideias e opiniões, mesmo que elas acabem por nos deixar ainda mais seguros quanto às nossas. Podemos, muitas vezes, aprender com os outros e reformular nossos pensamentos e crenças sobre vários assuntos, inclusive sobre nosso próprio ofício.

Se nosso trabalho, por exemplo, tem uma relação direta com o público, como ocorre com artistas e jornalistas, a receptividade e a opinião alheia são elementos imediatos. Os comentários e críticas surgem logo que a música, o texto, a peça ou o artigo são lançados ao mercado. Em pouco tempo sabemos se agradamos ou não, a esta ou àquela classe ou faixa etária etc, o que não se dá com a maioria das profissões. Por isso, dizemos muitas vezes que determinado autor escreve comédias pensando na resposta do público ou que aquele compositor faz músicas fáceis, para ter uma venda maior...

Mas a realidade é que, seja qual for nossa atividade profissional, sempre queremos, e até precisamos, agradar a alguém. E não conseguiremos nunca agradar a todo mundo. Sempre haverá quem discorde de nós, o que é esperado, e não deve ser visto como um mal.

O que não podemos é nos desagradar, sob o risco de não nos reconhecermos e de nos dispersarmos. Agradar a si mesmo não deve ser entendido como um ato egocêntrico, mas como autorrespeito.

Tanto não devemos defender ideias ou assinar textos com os quais não nos identificamos, como não devemos assinar os dias que não vivemos com a intensidade e a verdade que merecem.

A vida deve ser sempre uma obra autoral.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O DIA A SEU ALCANCE



Era domingo de outono e fazia sol. Mal abri a janela, a lembrança da floresta da Tijuca entrou. Há tempos não a frequentava. Liguei para uma amiga que aceitou bem a ideia do passeio. Saímos depois do café, sem levar o jornal. Sentia falta da natureza, não de reportagens sobre o mundo. Queria o mundo matéria, não a sua versão a serviço de algum interesse. Houve uma época em que eu costumava ler o jornal de domingo na praia, ou em algum ponto tranqüilo e verde da cidade. É curioso como os hábitos surgem e se vão, muitas vezes, sem que percebamos. Bem, mas o que sei é que domingo passado, então, escolhi caminhar, respirar o ar puro da floresta, sentir a energia das árvores, apreciar as variações da natureza.

Sem a menor dúvida, somos privilegiados por morar em uma cidade que possui uma floresta desta extensão e relativamente tão próxima a vários bairros. Quem pode, vivendo em uma área urbana, estar dentro de uma floresta, em cerca de trinta minutos? Nós! Acontece que, como podemos, acabamos nos esquecendo de fazê-lo. Sabemos que, a qualquer momento, podemos pegar um carro ou mesmo um ônibus e ir até lá, pois ela estará sempre à nossa espera, e, de preferência, ensolarada. E é justamente por isso que acabamos nos esquecendo dela.

Lá, sentada, à beira de um lago, apreciando as vitórias-régias, perguntei-me por que levava tanto tempo para voltar à floresta, sendo ela tão perto e tão agradável. Após três horas de passeio, com direito à caminhada, banho de cascata, descanso, reflexão e bate-papo, descemos revigoradas para a cidade, com a promessa, para nós mesmas, de voltarmos no domingo seguinte.

É claro, alguns de nós preferem a agitação da metrópole e até sentem-se melhor nos centros das grandes cidades, mas e você? Pense bem! Onde se encaixa? Se quiser descobrir ou se já souber que, como eu, tem na natureza uma grande fonte de vida, é hora de agir. Pode ser que em sua cidade não haja uma floresta como a da Tijuca, nem um grande parque como o Ibiapuera ou mesmo um ‘Central Park’, mas deve haver algum parque menor, uma praça, uma cascata, um lago, ou qualquer outro lugar onde você possa estar em contato com o verde. Você pode visitá-lo no próximo domingo, e quem sabe mesmo criar o hábito de frequentá-lo aos fins de semana ou, ao menos, com uma certa regularidade. Você logo perceberá como isto vai lhe fazer bem e como as semanas poderão ser vividas com mais energia e harmonia.

De minha parte, da floresta, trouxe, além do ar novo nos pulmões e da paisagem nos olhos, três perguntas fundamentais: por que não fazemos coisas tão simples e que nos dão tanta satisfação? Por que estamos sempre querendo ir para onde supomos esteja a vida? Por que não vemos que, a cada dia, a vida está a nosso alcance?

terça-feira, 26 de julho de 2011

UMA QUESTÃO DE PRIORIDADE

Existem algumas perguntas aparentemente simples que deveríamos nos fazer com bastante regularidade, pois elas servem como uma espécie de termômetro, não para verificar nossa temperatura, mas a quantas anda a nossa vida.

Eis aqui um bom exemplo: Quais são as suas prioridades? Sim, isto mesmo: Quais são as coisas que vêm em primeiro lugar para você?


Se nunca pensou nisto, pare rapidamente e pense, pois seu caso é mais sério. Você tem vivido todos estes anos e não teve tempo para se perguntar o que existe no mundo de mais importante para você?


Bem, partamos do princípio – bastante desejável, por sinal - que haja pessoas e coisas importantes para você e que, por serem várias, você tem que estabelecer um ordem de interesse e de ação. O que vem em primeiro lugar é a sua prioridade, no momento atual, é claro, já que, com a idade, nossas prioridades vão mudando ou mesmo crescendo bastante. Um adulto, muito provavelmente, não tem os mesmos desejos da infância ou da adolescência. O tempo nos amplia e nos renova. Logo nossos interesses, desejos e necessidades vão se modificando e se consolidando. A escolha profissional, por exemplo, ocorre, em princípio, na adolescência e pode seguir até a velhice ou ir se modificando ao longo do tempo. Mas será sempre uma prioridade, pois o trabalho, na maioria das vezes, é o que permite a realização das demais.

Além do trabalho, nossas principais áreas de interesse são, normalmente, a afetividade, o sexo, as relações familiares e sociais, o crescimento intelectual e o espiritual, e a saúde. Se você parar e escrever num papel as dez coisas mais importantes de sua vida, verá que, provavelmente, elas se encaixam nestas áreas citadas acima.


Que tal fazer esta lista como exercício? Você pode achar mais fácil apenas pensar sobre o assunto, mas não é a mesma coisa. Escrever é mais do que simplesmente se lembrar destas prioridades, porque o escrever envolve não só pensamentos, mas escolhas.

Faça o teste agora e não minta para você mesmo. Coloque em ordem as grandes motivações de sua vida. Seja honesto, pois esta lista é só sua, não há risco de ninguém se sentir magoado com ela. Não escreva o que você acha que seria o certo ou o esperado. Por exemplo, talvez o convívio com a família não seja uma prioridade para alguém, que o escreveria apenas porque é uma expectativa da sociedade. Não o faça. Se você mentir para si mesmo, esta lista não terá utilidade.

Feita a lista, com a maior honestidade possível, releia e veja se não faria alguma mudança na ordem. Pense mais um pouco e faça as alterações necessárias, para ser bastante fiel ao que sente e pensa. Não ponha mais do que dez itens, ou não serão prioridades.

Se já acha que a lista corresponde à sua ordem de interesses na vida, vamos à segunda pergunta, e talvez mais difícil do que a primeira: O que você tem feito por suas prioridades? Pelo menos pelas três primeiras da lista? Vá, com sinceridade, responda a você mesmo.

E depois disso, a parte mais importante do exercício : escreva o que fará por elas, A PARTIR DE AGORA. E comece a agir, hoje!