A sogra de uma amiga, quando soube que ela queria se separar de seu filho, chamou-a para uma conversa amiga, de mulher para mulher, de mãe para filha (ela podia tratá-la assim, não podia?). Em cinco minutos de conversa, estava bastante claro o objetivo do convite: tentar convencê-la a todo custo que ela não deveria (ou não poderia) abandonar seu filho.
Não há dúvida de que separação não é uma coisa boa, sendo a causa de um enorme número de depressões, antes até da viuvez ou da perda de alguém querido. Por outro lado, sabe-se também da enorme quantidade de relacionamentos que acabam em separação. Isto não diminui a dor, mas há muito desfez o tabu e descriminação que havia em relação a pessoas separadas. E essa realidade vem sendo tão evidentemente consolidada que, por exemplo, diante de tantas novas configurações familiares, várias escolas vêm dando preferência a uma festa para a família, em alguma data que não seja nem o dia dos pais nem das mães, para evitar o constrangimento do aluno diante de uma provável ausência do pai ou da mãe.
Mas voltando à conversa entre a sogra (a quase-mãe) e minha amiga... parece que a primeira não estava disposta a aceitar que a nora deixasse seu filho em hipótese alguma e, com postura e tom de voz autoritários apresentou uma lista de motivos retrógados e arbitrários para que a separação não acontecesse. Disse-lhe que uma ‘mulher de bem’ não deixa o marido, que não destrói uma família. Disse-lhe para pensar melhor, pois logo, logo iria se arrepender e então seria tarde e que nunca mais ela seria feliz de novo. Que mais do que a uma relação, era à vida dos dois que ela estava pondo um fim e só Deus tem o direito de tirar uma vida... enfim, utilizou-se dos argumentos mais apelativos que encontrou.
Pouparei os leitores da continuação do melodrama. Direi apenas que, depois de 40 minutos, a nora saiu do apartamento da sogra, sem ar e abalada. Sem saber o que fazer ou para onde ir, telefonou-me para encontrá-la. Como a hora não era de censura, pouco falei em nosso encontro, limitando-me mais a escutá-la.
Agora, na crônica, envio-lhe o recado. O que ela esperava do discurso da sogra? Que homem é este que precisa que a mãe fale autoritariamente com sua própria mulher? Que mulher é esta que vai à casa da sogra para ouvir suas censuras e críticas? Talvez esteja aí a causa (ou uma delas) da separação: apesar da idade, o casal se portava como filhos, não como adultos.
E, quanto à sogra, que desastre!